terça-feira, 27 de março de 2012

Adeus bebida alcoólica.

A maior dificuldade que encontrei ao deixar de beber foi reestruturar minha vida sem estar ao redor de uma garrafa de bebida, já que dos meus 20 aos meus 41 anos de vida pautei a minha vida social em torno de lazeres de copo. A maioria dos melhores amigos e amigas enxugam bem uma gelada de demais tipos de álcool deste mundo. Muitas dessas pessoas ao me verem na abstinência, muitas vezes me ofereceram bebida, dizendo não haver perigo num simples gole, naturalmente recusei esse convite.

Alguns colegas meus haviam parado com o álcool mais ou menos na mesa época em que eu deixei, caíram nesta tentação e voltaram com tudo. Um deles que passara quatro anos sem beber, durante um recital em homenagem ao nosso saudoso Chico Espinhara, emocionou-se e entornou entusiasticamente um garrafa de vinho, até o presente momento, está de volta ao copo e preocupado em querer deixar de novo. Encontrei com ele semana passada no centro do Recife, anda cometendo excessos e se comportando de forma desagradável para os que têm que aturar suas “performances” nada aprazíveis quando ele está chapado. Já presenciei umas quatro vezes ele caído pelos bares do centro, vomitando, ficando desacordado e à mercê de ser lesado por pessoas de má índole que costumam se aproveitar de que dá esses vacilos nesses cantos da cidade.

Tem outro bom amigo, dez anos mais velho, antigo parceiro de farras etílicas e musicais na Vila do IPSEP aonde eu estreei na esbórnia nos fins dos anos 70. Desde esses tempos ele comete excessos e tem comportamentos inadequados ao convívio social e um perfil depressivo e auto destrutivo. Em 2002, eu reencontro ele num ônibus e começamos a conversar, ele me convida para umas partidas de xadrez (joga divinamente) e me diz que está cerca de dois anos abstêmio. Nos congratulamos pelo nosso passado comum, pelo gosto pelo jogo de xadrez e pela luta em comum que travamos contra o alcoolismo, ele com uma aparência bem mais saudável daquela que costumava ver em outras vezes que eventualmente topei com sua figura. Meses depois, eu me encontro no Pátio de São Pedro quando alguém efusivamente me abraça e me saúda com entusiasmo em pleno Bar do Sargento aonde entrei pra tomar uma água mineral com gás. Era ele, olhos vermelhos e injetados, fala enrolada, bafo de cana muito forte, suado e cheirando mal, denunciando que está na farra há muitas horas e sem limite, tal como era nos tempos que eu o conhecia. Ele é separado da mãe de sua única filha, me conta que há cerca de nove meses arranjou uma namorada nova e que fora comemorar com ela e sua família o “reveillon” daquele ano de 2002, inebriado com o calor de sua amada, emocionado com a passagem de ano, ele aceita brindar com ela com uma inocente taça de espumante. Ele não vê nada demais nisso e embarca nessa com sua cara metade, na seqüência, termina por entornar com avidez e voracidade o resto da garrafa do espumante. Segue tomando todas as cervejas que vê na frente, enche a cara, dá vexame ainda na festa da família da namorada, o namoro dele não sobrevive à decepção da moça que descobre um lado da personalidade dele que ela ainda não conhecia: seu lado de bebedor compulsivo e todos os comportamentos sociopatas que são associados a quem tem essa doença psicossomática provocada por agente externo. Deu pena ver Marcos naquele estado deprimente, sempre o vejo com certa freqüência no mesmo estado, nas vezes em que apareço no Pátio de São Pedro de onde ele é freqüentador habitual.

Meu primeiro gole após meu tratamento de alcoolismo aconteceu de forma inusitada em 2003. Estava eu tocando numa casa muito rica em Vitória de Santo Antão, era aniversário de uma senhora muito distinta que estava curada depois de uma mastectomia radical por causa de um câncer de mama. As irmãs dela me contrataram para celebrar seu aniversário ao redor da piscina da enorme,linda e confortável casa dessa família abastada. Ao redor da piscina as mesas, eu bebia um copo de coca cola com gelo cantava acompanhado pelo violão animando a festa, numa mesa do lado uma das pessoas bebia uma dose se rum com coca e limão. De repente começa a chover, as pessoas se abrigam debaixo da coberta da área em que eu estou tocando, naturalmente, se aglomeram e trazem junto seus copos de bebida. A chuva é passageira todos voltam pra suas mesas e eu retomo meu show, de repente, a boca seca, eu pego o que eu pensava ser meu copo de coca cola, não era. Sinto o gosto forte de “cuba libre” na boca e me desespero. Temo que meu cérebro leia aquele arco reflexo e ative minha compulsão, uma vez caindo na corrente sangüínea, o álcool ativa sua ação e aí nosso psiquismo faz o resto do serviço da escravidão química de qualquer vício. Peço para um colega meu pegar o violão e segurar as pontas no palco, entro apressado no banheiro próximo da piscina, tiro a roupa e abro a torneira muito intensa de água muito fria e dou em mim um longo choque térmico ficando uns dez minutos debaixo daquela ducha gélida. Senti tanto frio que nem mais me lembrei do episódio de ter entornado aquele gole involuntário de bebida alcoólica. Volto ao palco morrendo de frio e termino a noite dormindo sossegado na casa de uma amiga que tenho na cidade que sempre me acolhia nas vezes em que eu visitava essa agradável cidade da zona da mata. Foi um susto danado, eu contando isso pra minha irmã mais velha no outro dia, meu filho mais novo estava ouvindo e começa a chorar pensando que eu havia voltado a beber, foi uma barra explicar pra ele que fora uma coisa acidental e que a idéia que tive do choque térmico provavelmente barrou o impulso que meu cérebro receberia com aquela pequena e involuntária dose de álcool. É isso aí.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Socratizando o mote(mote de Clécio Rimas)



Disse Sócrates somente
Ao deitar filosofia
Era assim que ele fazia
Fazedor de tanta mente
Pois se Sócrates não mente
Ao ditar vistosa lei
Fundador da nobre grei
Que no mundo ainda existe
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

E socrático seguindo
Pelo mundo o pensamento
Do saber todo fomento
A idéia aqui surgindo
Sou socrático tinindo
Mas não quero virar frei
O saber que alcancei
No meu quengo ele insiste
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

Feito Clécio vou rimando
Vou socratizando o mote
No poema dando bote
E aqui poetizando
Cada glosa vem chegando
E com Sócrates me dei
O que mais aqui direi
Só vontade aqui persiste
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

Todo meu saber agora
É um rio acumulado
Desce o leito apressado
Vai rumando nesta hora
O saber tem sua hora
Tudo que já estudei
Tudo a que me dediquei
Não fará de mim um triste
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

O saber desafiando
Desde os tempos de menino
Mas saber é algo fino
Que se vive procurando
Toda vida ir buscando
Como aqui eu já falei
O saber que saberei
E mais forte que alpiste
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

Glosa bem socratizada
Exercício dos neurônios
E mentais os patrimônios
Das sinapses gestadas
As estrofes que criadas
Que assim socratizei
Pois com Sócrates irei
Pois limite inexiste
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

Peço mote para o Rimas
Cabra macho do sertão
Onde reina a criação
De Dedé com obras primas
Vou socratizar estimas
E aqui mais criarei
Uma estrofe que farei
Pois a verve aqui resiste
"Todo meu saber consiste
Em dizer que nada sei"

segunda-feira, 5 de março de 2012

As mulheres reais


I
Celulite a estria até culote
A mulher a viver num pesadelo
E um quilo a mais não quer sabê-lo
Flacidez ela teme no decote
A mulher cada qual tem o seu dote
Elas são por aí bem naturais
A TV a mostrar belezas tais
Que na vida nos são bem rarefeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
II
A mulher que se vê preocupada
Quer mudar melhorar sua aparência
Com cosmético procura na ciência
Com o corpo ficar bem arrumada
A mulher mais comum é nossa amada
E com ela os gozos animais
As Giseles modelos são demais
É bem caro bancar essas sujeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
III
A mulher ideal toda beleza
Uma imagem real? Ou fantasia?
Toda mídia no mundo que anuncia
A mulher mais comum na correnteza
Pra ficar quase igual tome despesa
Malhações e regimes bestiais
As mulheres comuns são sensuais
Como essa irmão que tu aceitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
IV
A mulher ideal é só modelo
Que criou um mercado bem escroto
Pra vender muito mais povo maroto
E assim resolveu-se concebê-lo
A mulher que se tem é nua em pelo
E na cama nos geme em tantos ais
E com elas nós somos belos pais
Pois nos são as rainhas bem eleitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
V
Vejo tantas mulheres esticadas
Com botox na cara o escambau
Satisfeita não fica nem a pau
Turbinar seus peitões siliconadas
São assim as mulheres fabricadas
Cirurgias nas partes genitais
Muitas vezes as lipos são letais
Cirurgias aí que são mal feitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
VI
A beleza conceito relativo
E depende de quem puser o olhar
A mulher que nasceu para encantar
Tudo belo que tem é algo vivo
Dependendo do olho e do crivo
Tem afetos e afagos maritais
Ditadura das formas ideais
São idéias senis tolas suspeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
VII
A TV a mostrar moças magrelas
Que não comem não vivem só vegetam
As doenças terríveis lhe afetam
Anoréxica também outras mazelas
Bulimia transtornos que dão nelas
E só comem bem poucos vegetais
Perecer de doenças tão mortais
Nunca são com seu corpo satisfeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
VIII
Para amar a mulher não tem segredo
Basta só o olhar de um carinho
O calor aconchego deste ninho
Vá em frente amigo sem ter medo
Vai gostar desta deusa desde cedo
Ela tem mil trejeitos maternais
Vale mais do que bens materiais
E com ela pro futuro te ajeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
IX
Se as rugas que tem lhe incomodam
Muitas vão corrigir com cirurgias
Mas não tem um remédio pras estrias
Estas sim vem ali e não se açodam
Mas mulheres reais não se acomodam
Vão buscar tratamentos atuais
Os hormônios até cremes minerais
Não aceitam no corpo tais desfeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
X
A mulher bem real é a namorada
E esposa amada tão somente
O carinho que dá é envolvente
Por gostar com afeto ser tocada
A mulher é a flor mais delicada
Que brotou dos jardins celestiais
Seu afeto é nosso eterno cais
Se amar ao cuidar dela respeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XI
As mulheres reais são companhia
Que se tem com valor a vida inteira
Seja ela a doutora ou faxineira
Vai cuidar de você em cada dia
Seu calor de mulher que contagia
Seu amor de contornos divinais
Faz você despertar forças primais
Elas tem do amor todas receitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XII
O meu verso findando nesta hora
Pras mulheres comuns de todo mundo
E pra elas carinho mais profundo
Neste verso cordel que faço agora
A mulher soberana é a senhora
Que possui tantos dons paranormais
Ela tem todos tons sentimentais
Mais calor do que mil febres maleitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XIII
Tem atriz e cantora viciada
Em boyzinho botox e cirurgia
No Faustão na TV o povo espia
A dizer ó que véia assanhada
Outra tem um programa é enjoada
Um tormento das horas matinais
Com seu louro asneiras colossais
Ela diz cozinhando as receitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XIV
Tive uma que tinha silicone
Um quinhentos ou mais em cada peito
O serviço ali foi tão mal feito
Que de vaca a doida virou clone
E ligava pra demais no telefone
A pedir-me meu bem dê mil reais
Pra tratar destas tetas anormais
Duas tetas tão tortas não direitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XV
A Dercy era velha e bem escrota
Desbocada pirada e assumida
Moralista assaz sofreu na vida
Nunca quis a Dercy virar garota
Talentosa demais que só a gota
Baluarte das artes nacionais
A idade Dercy negou jamais
Demonstrou energias bem refeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XVI
Tem as frutas rabudas e vulgares
Melancia tem jaca e tem melão
São talentos de peito de bundão
Invadindo a TV e nossos lares
Mas também são piranhas populares
Cantam funks para os débeis mentais
Playboys com arroubos punhetais
São as frutas do resto das colheitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XVII
Dona Hebe Camargo bem perua
Uma véia legal uma gracinha
Começando na TV ainda novinha
Mas também não negou idade sua
Pra dizer a verdade nua e crua
Ela diz o que pensa e muito mais
E se rolam fofocas nos jornais
Ela diz são lorotas imperfeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XVIII
A beleza conceito da cultura
Variando de tempo e região
O que vale no fundo é a paixão
O amor de verdade que perdura
Da mulher vou pintar sua figura
Como fez o Vinícius de Moraes
Nos seus versos viris fenomenais
Ó Vinícius a mulher tão bem enfeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XIX
As mulheres reais beleza pura
Dessas que o poema diz sorrindo
Que elas são lindas flores aí florindo
E o Éden feliz que se procura
Elas são qual riachos de ternura
Diferentes mas no fundo tão iguais
Seu amores que são universais
E por elas a qualquer perigo peitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XX
As mulheres reais cuidam da gente
Como mãe nossa fêmea com calor
Elas tem o seu toque encantador
Mas mulher tudo igual mas diferente
Tem mulher no poder de presidente
Presidenta também diz o Houaiss
Pouco conta o modo que falais
No poder elas são muito afeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XXI
A mulher no Brasil foi paladina
Como Anita Pagu Leila Diniz
Irmã Dulce em outra diretriz
Fez o bem de uma forma genuína
Viva a força da graça feminina
São seus dons que são originais
As mulheres mandando são legais
Todas mães guerreiras insuspeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XXII
Elas são as meninas poderosas
Ao cuidar segurar coisas do mundo
As mulheres reais indo a fundo
Dão ao mundo vontade corajosa
Para nós as parceiras preciosas
Podem mais que canhões e generais
Mandam mais que quinhentos marechais
Quero ver no poder mais que prefeitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XXIII
Se Jesus que nasceu de Mãe Maria
Mas não foi da semente de José
Também ele na fêmea botou fé
Prostituta das pedras salvaria
A mulher toda vida que ela cria
Dela vem sentimentos fraternais
Nós os homens os seres mais brutais
A buscar o poder em mil espreitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais
XXIV
Vou falar neste verso da emoção
E dizer o que eu encontro nelas
Todas são ao seu modo donas belas
Ao tocarem assim no coração
O cordel sendo minha profissão
E também as escalas musicais
Vou deixar meu poema aos comensais
Meu leitor e leitora te deleitas
As mulheres reais não são perfeitas
As mulheres perfeitas irreais