sábado, 30 de janeiro de 2010

A IDADE DO LOBO




Quando o homem amadurece
Chega à idade de ser lobo
Ele pensa não ser bobo
Seu desejo vem aquece
Mulher nova lhe apetece
Corre atrás de uma franguinha
Vira um coroa galinha
É um lobo o ”tiozinho”
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Parecendo estar no cio
Pelo menos aparenta
Pois passando dos quarenta
Pras boyzinhas é um “tio”
Chega dar um arrepio
Vendo moça mais novinha
Ele tenta entrar na linha
Parecer mais jovenzinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Lobo idade vê chegando
Fica um homem assanhado
Ele quer dar atestado
Que ainda está funcionando
E assim vai encenando
Esta antiga historinha
Sai atrás da garotinha
E só quer curtir brotinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

É o lobo caçador
Vai cercando sua presa
Utiliza a esperteza
E quer ser conquistador
Pra mostrar ser sedutor
Paquerando jovenzinha
Que é danada espertinha
Foge feito passarinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Vai assim pintar cabelo
E também raspa o bigode
E tem o fogo de um bode
Pra boyzinha faz apelo
E assim resolve sê-lo
Usa calça apertadinha
Quando ela se avizinha
Ele fica assanhadinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

O coroa é inseguro
Quer mostrar ter juventude
Só cuidando da saúde
Pra o “negócio” ficar duro
Pois tem medo de dar furo
Quando encara essa gatinha
Que é esperta safadinha
De transar saca tudinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Tal coroa é enxerido
Vivaldino bem sacana
Azarar balzaquiana
Quando não é preferido
Pela nova é esquecido
Rejeitado se aporrinha
Vai chorar qual ladainha
Ou procura outro carinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Se é coroa com dinheiro
Mas tesão é outra história
Ele guarda na memória
Seu passado por inteiro
Quando foi raparigueiro
A comer prima e vizinha
Agarrava a empregadinha
E a mulher do seu vizinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Dos seus tempos de rapaz
Ele era feito um galo
A subir fácil seu falo
Os tempos não voltam mais
Mas é lobo mau voraz
Galinhagem é fominha
Paquera a gata fofinha
Mas no fim fica sozinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

Lobo mau bem conformado
Encarar a tal coroa
Que ainda é muito boa
E dá conta do recado
Um coroa bem folgado
Quis dar uma transadinha
Namorar esta boyzinha
Que prefere homem novinho
Pois paquera a chapeuzinho
Mas só come a vovozinha

SONETO AO PAJEÚ


Agradeço aos poetas sertanejos
Por me darem tal presente em poesia
Pajeú pátria mãe da cantoria
Dos trinados de viola benfazejos

Grandes vates improvisos e lampejos
Que fizeram no meu canto a alforria
São José do Egito nalgum dia
Foi-me fonte dos poéticos desejos

E de volta ao Recife ensolarado
Vi meu verso de sertão impregnado
Prosseguindo pelo mundo um menestrel

O meu canto sertanejo adormecido
Acordou-se para sempre enriquecido
Traduzido em torrentes de cordel

SONETO DA ILUSÃO



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E do jeito que me olhaste foi veneno
Foi feitiço que roubou o meu sossego
Cativando coração deste teu nego
Que rendeu-se a sonhar afeto pleno

Mas o mundo pra outro rumo fez aceno
E seguiste qual cigana sem apego
Teu afeto foi presente de um grego
Que aceitou meu coração em tempo ameno

Mas depois sobreveio a tempestade
E o tempo revelou toda verdade
Dissipando ilusão que em nós campeia

O afeto que me deste foi tão bom
Mas foi frágil como enfeite de crepom
Pois no fundo foi só canto de sereia


Recife, 2005.

SONETO AO RECIFE



Quando veio pequenino de outra terra
Uma dama litorânea lhe acolheu
Nos afagos de poesia que lhe deu
E o romance entre os dois nunca encerra

Na cidade que fez nativista guerra
Liberdade que um mártir concebeu
Pois um veio de coragem aí nasceu
E o inimigo vence bate e o desterra

E assim o viajante apaixonado
Pouco a pouco foi ficando transformado
Bem distante do saudoso Cariri

Neste canto de Brasil fez a morada
De Recife sua alma impregnada
Fez seu sonho de cidade ser aqui

SONETO DE CARNAVAL




A cidade acordou viva embalada
Sob os raios mais serenos matinais
Com o som dos clarins dos carnavais
Como onda veio a massa inebriada

Vendo o Galo que acordou de madrugada
Colombina com encantos sem iguais
Foi atrás de Arlequim não voltou mais
E deixou em Pierrô voz embargada

Pierrô fez assim seu triste verso
Colombina encantou-se no universo
Seu amor de carnaval que mais não viu

Em Pierrô desencanto e solidão
Colombina foi-se em meio à multidão
Sem pensar no coração que ela partiu



Este foi o primeiro soneto, o qual fiz no ano de 2005

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

AS PESSOAS DO VERBO

.(poema batizado pelo falecido poeta Erickson Luna)
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Eu me chamo perplexo
Tu te chama medo
Ele se chama fome
Nós nos chamamos reféns
Vós vos chamais de cidadãos
Eles se chamam senhores do mundo

Eu calo e espero a hora
Tu te calas e bebes
Ele se cala e enlouquece
Nós calamos e seguimos
Vós vos calais alienados
Eles se calam conspirando contra todos

Eu ameaço um auto exílio
Tu ameaças um suicídio
Ele ameaça: - é um assalto
Nós ameçamos uma greve
Vós ameaçais até breve
Eles ameaçam de morte

Eu penso em prosseguir
Tu pensas em consumir
Ele pensa em sobreviver
Nós pensamos bem diferente
Vós pensais que sabeis de tudo
Eles pensam que ainda pensam por nós.


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Contemporaneidade

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I
Carlos Pena fosse vivo
Acharia tão ruim
Pois seu velho Bar Savoy
Hoje em dia está assim:

- São trinta copos de chope
- São trinta homens sentados
- Quinze deles são michês
- Os outros quinze os viados
II
Na Marim do Caetés
Seria bem diferente
Pois Bar Savoy lá não tem
Tem Marola lugar quente:

- São trinta copos de chope
- São trinta doidos sem rumo
- Quinze deles quando saem
- Vão ali queimar um fumo

III
No Coque e Joana Bezerra
João de Barros Santo Amaro
Já não são copos de chope
Cujo porre sai bem caro:

- São trinta copos de cana
- São trinta cabras lascados
- Vinte nove quando correm
- Porque um foi baleado

IV
Já na praia do turismo
Carlos Pena chegaria
Entocaria o relógio
Celular e a mixaria:

- São trinta louras geladas
- Na areia a diversão
- Mas ninguém encara a água
- Com medo de tubarão

V
Carlos Pena certamente
Vê tudo isso do além
Na Pracinha do Diário
Bem diferente também:

- São trinta, não bebem chope
- São trinta que enchendo a cuia
- Trinta vezes dez por cento
- E um pastor diz aleluia.

Esse poema começou com uma brincadeira minha há cerca de um ano atrás, encerrei num dia desses em 2008, às gargalhadas, ao lado do meu filho Eduardo numa noite insone em Olinda.
Allan Sales
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mote do poeta Heleno Alexandre em 28 de janeiro

Como lei que mostra a vida
Quem plantar tem que colher
Isso que nos faz saber
Como coisa bem sabida
Toda coisa que vivida
É a lei mais natural
Tem pessoa fraternal
Tem um mau sem ter porém
QUEM PLANTA O BEM COLHE O BEM
QUEM PLANTA O MAL COLHE O MAL

Que faz bem ao semelhante
Vai colher sempre ventura
Que semeia de alma impura
Vai colher seu mal avante
Nossa vida todo instante
É uma escolha pessoal
Cabe sim a cada qual
O limite de ir além
QUEM PLANTA O BEM COLHE O BEM
QUEM PLANTA O MAL COLHE O MAL

A pessoa que escolhe
Sua senda e assim seguir
E o que se preferir
Livre arbítrio não se tolhe
Mas quem planta sempre colhe
Vai saber bem no final
Percebendo no geral
Quando seu destino vem
QUEM PLANTA O BEM COLHE O BEM
QUEM PLANTA O MAL COLHE O MAL

Lei de causa com efeito
Que falou Allan Kardec
Meu xará mostrou um leque
De opções pra todo feito
Como rio no seu leito
Cada carma é sem igual
Ser humano é animal
Racional que senso tem
QUEM PLANTA O BEM COLHE O BEM
QUEM PLANTA O MAL COLHE O MAL

Quem pratica o perdão
Esse vai ser perdoado
O rancor que é guardado
Envenena o coração
Como diz o bom cristão
São Francisco como tal
Teve fé descomunal
E bondade fez também
QUEM PLANTA O BEM COLHE O BEM
QUEM PLANTA O MAL COLHE O MAL

Somos anjos ou capetas
Dependendo da opção
Pois vai ter a punição
Se quiser fazer mutretas
Vida tem muitas facetas
Tem mistérios e afinal
Nossa paz só é real
Se o amor ela contém
QUEM PLANTA O BEM COLHE O BEM
QUEM PLANTA O MAL COLHE O MAL

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Cordel dedicado à amiga Taís Paranhos



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Eu sou livre cidadão
Casa grande nem senzala
Minha voz nunca se cala
O destino em minha mão
Um poema e um violão
Nisso eu me fiz capaz
Sou da luta e sou da paz
Não sou cria do opressor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Eu sou filho desta gente
Que viajou em nau negreira
Sou da gente brasileira
Sou da taba combatente
Sou Brasil inteligente
Li Darcy fui contumaz
Sou Brizola e sou Arraes
Nunca fui de ditador
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Não sou falso democrata
Nem assecla de tucano
Sou Brasil no mano a mano
Que a verdade pura acata
Meu passado me relata
Mostra o que nos satisfaz
Meu valor ninguém desfaz
Pois sou povo lutador
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Sou Brasil de operário
Professor e estudante
Libertário e militante
A pintar nesse cenário
Contra todo sectário
Que mentindo se compraz
Contra abutres tão venais
E o poder de usurpador
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Sou alfaia batucando
Sou viola repentista
Sou Brasil de cordelista
Sou Brasil lindo sambando
Sou Brasil se emancipando
Sou Brasil forte assaz
Sou Brasil Brasil demais
Sou Brasil de inventor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Sou Delmiro e sou Mauá
Sou também Abreu e Lima
Castro Alves de obra prima
Lia de Itamaracá
Sou Zé Brown e sou Naná
Sou Palmares tão veraz
Sou Canudos sou tenaz
Sou Brasil libertador
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Paulo Freire me educou
Josué me deu seu lastro
O burguês sacana eu castro
Galeano alumiou
Se Buarque anunciou
Vamos nós correr atrás
Como os tupinambás
Enfrentando o agressor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Falo com Tais Paranhos
Com as de Tejucupapo
Muita ação e pouco papo
Só libertos nossos ganhos
O passado deu-nos lanhos
De dobrar foi incapaz
Pois quem sabe certo faz
É de si o construtor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Sou daqui do Pernambuco
Mas nasci no Ceará
Fiz aqui meu bê-a-bá
Opressor aqui retruco
Nesta terra de Nabuco
De Gregório e tantos mais
A coragem é nosso gás
Nosso sopro redentor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Sou Zumbi lá em Palmares
Sou do xote e do baião
Sou Dom Hélder bom cristão
Sou Recife destes mares
Das alfaias batucares
Sou nordeste assim primaz
Contra força mais voraz
A roubar trabalhador
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Sou um filho desta terra
Consciente do papel
Nas veredas do cordel
Cuja força nunca encerra
Um soldado nesta guerra
Resistir ao ladravaz
O poder dos marajás
Não será mais vencedor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz

Brasileiro e nordestino
No cordel no itinerário
A brilhar neste cenário
De cigano e peregrino
Nas estradas do destino
Todo dias assim refaz
Ó futuro assim virás
Pra pintar com nova cor
Nem escravo nem senhor
Muito menos capataz




SONETO DA DESPEDIDA

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Vai e segue teu caminho simplesmente
Vai atrás do que faz feliz a vida
Na penumbra sofreu de alma curtida
Teus fantasmas povoam tua mente

Vai sem culpa falou assim que sente
Mas magoas quem te fez por preferida
Se não queres ser assim a mais querida
Paciência -esquecer- seguir em frente

Sê feliz e prossegue teu caminho
Levarei na lembrança teu carinho
Do que foi tentativa vã do amor

Seguirei meu solene itinerário
Um vazio toma conta do cenário
Onde antes havia algum calor.
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Viva o Povo Brasileiro






Essa linda mestiçagem
A cultura tão plural
Colorido festival
Como é linda cada imagem
O Brasil pede passagem
Com seu povo tão guerreiro
Pra mostrar ao mundo inteiro
Sua humana substância
E também sua importância
Viva o Povo Brasileiro

Viva o samba e o baião
Viva a moda de viola
Viva o nosso show de bola
Viva o Tom e o Gonzagão
Viva a praia e o sertão
Viva o pulso do pandeiro
Viva a verve e o violeiro
Viva nossa fauna e flora
Viva meu Brasil de agora
Viva o Povo Brasileiro

Um país tão diferente
Tantos povos tantas raças
Toda força dessas massas
Grande povo inteligente
Tem cordel e tem repente
Tem batuques no terreiro
Pro futuro é passageiro
Carimbou sua passagem
Embarcou nessa viagem
Viva o Povo Brasileiro

Suas cinco regiões
Com é multicultural
Tem poesia é musical
Belo em todos rincões
Litorais lindos sertões
No Nordeste tem vaqueiro
E um gaúcho cavaleiro
Pantanal tem seu peão
Comitiva em profusão
Viva o Povo Brasileiro

Tanta fé com sincretismo
Rezas, curas e os mitos
Vão benzer solenes ritos
As mandingas misticismo
Candomblé cristianismo
Tem ogã e tem romeiro
O rezar tão costumeiro
Brasileiro é muita fé
É benzido e com axé
Viva o Povo Brasileiro

Patuás aos pés da cruz
Um benzer e baixar santo
Rezas fortes com acalanto
No terreiro que seduz
Oxalá e tem Jesus
Um Tupã de índio guerreiro
Um Brasil sopro primeiro
Da raiz da identidade
Brasileiro com verdade
Viva o Povo Brasileiro

Irmãos filhos de Tupã
As malocas numa taba
Tem pajé que não se acaba
A fitar novo amanhã
Irmão índio é um titã
Do Brasil foi pioneiro
Resistiu ao estrangeiro
Preservou toda raiz
De primaz toda matriz
Viva o Povo Brasileiro

Irmão negro e africano
Sob a força de um grilhão
Quem forjou na servidão
E plasmou em todo plano
Nosso painel humano
De perfil alvissareiro
Com seu braço de obreiro
Construiu nossa grandeza
Ainda esteio da riqueza
Viva o Povo Brasileiro

Os demais povos do mundo
Que vieram aqui somar
Construir nos transformar
No sentido mais profundo
Irmanados indo a fundo
Nosso irmão por companheiro
Meu Brasil ver timoneiro
Navegando rumo à paz
Pois seu povo é tão capaz
Viva o Povo Brasileiro

Paulo Freire educador
Grande Josué de Castro
Niemeyer nosso lastro
Villa Lobos com valor
O pensar que tem Millor
Vou louvar Darcy Ribeiro
Seu pensar nosso luzeiro
Dando luz pra ver a meta
Do Brasil brotei poeta
Viva o Povo Brasileiro.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Aprendiz




Comecei a tocar violão quase que por acaso, sem grandes expectativas no ano de 1977 quando meu grande amigo Fernando Arthur ensinou-se o três primeiros acordes no instrumento, nos tempos de férias que passava em Campina Grande-PB. De volta ao Recife, uma tia cedeu pra mim seu velho violão Giannini que meu avô lhe dera por ocasião dos seus quinze anos de vida. O velho pinho em estado de conservação bem precário foi de grande serventia naqueles primeiros passos. Perto de casa havia uma oficina mecânica na qual trabalhava um amigo bem mais velho chamado Zeca, um jovem rapaz negro migrante de Vitória de Santo Antão que tocava violão. Foi meu segundo mestre, tocava as gaiatices de Genival Lacerda, as coisas mais simples de Roberto Carlos, as esquisitices de Sidney Magal, muito brega de Fernando Mendes, Reginaldo Rossi, baiões de Gonzaga, Benito de Paula, Agepê. Ou seja, um repertório bem popular dos sucessos de rádio daqueles tempos. Paralelo a isso, eu comprava tudo quanto era revistinha de cifra que saía nas bancas de revista do Recife.
Ano seguinte, em Campina Grande, na casa dos meus amigos da família Nogueira, seu filho mais velho pôs pra tocar na vitrola um disco do MPB-4 tocando Roda Viva de Chico Buarque de Holanda, entre outras pérolas de uma antologia desse maravilhoso grupo musical. Além disso, me fez ouvir pela primeira vez João Gilberto, tocando aquele violão com acordes que meu ouvido jamais tinha ouvido e que eu não sabia como montar no braço do violão. Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Carlos Lyra e toda trupe da bossa nova passei a conhecer nesse tempo. Fiquei apaixonado por bossa nova, mas não tinha a menor noção de como poderia tocar aquelas “aranhas”, como meus amigos chamavam aquelas posições esdrúxulas no braço do violão. Os dedos não chegavam, doía pra cacete abrir os dedos pra armar aqueles acordes. A batida então, aquela coisa sinistra e sincopada que eu amava ouvir e que não conseguia reproduzir aquele pulso musical, engraçado que o samba tradicional eu tocava com grande eficiência e sem problemas, mas aquela batida que João Gilberto criou era um pesadelo.
De volta ao Recife, conheci um cabra chamado Moisés, amigo dos meus amigos que jogavam xadrez que tocava divinamente, foi uma surpresa quando ouvi ele tocar e cantar com voz super afinada Garota de Ipanema com tudo que tinha direito. Colei no Moisés, aprendi todos os acordes daquela canção mas não conseguia pulsar na batida certa. Ficava horas a fio tentando, muitas vezes me trancando no banheiro de casa depois que todos dormiam, pois era o único lugar da casa aonde tocava sem acordar o povo da família que tinha um sono pra lá de leve. Numa dessas madrugadas, entrei no banheiro, sentei no bidê e comecei a dedilhar a seqüência harmônica da canção, de repente, quase como milagre, encaixo finalmente, depois de mais dois meses de tentativas a batida de bossa nova. Fiquei a noite toda tocando em êxtase Garota de Ipanema, até que minha mãe acordou para ir ao banheiro lá pelas quatro da manhã e me pegou tocando violão. Levei um baita esporro e fui, a contragosto, me deitar.
De posse dessa nova ferramenta rítmica, passei a tocar todo repertório de bossa nova e aprender músicas de compositores da elite estética da MPB, foi um achado, passei a pesquisar tudo que me caía nas mãos. Em 1979, na Vila do IPSEP, passei a colar noutro mestre de violão que a vida pôs em minha frente, chamava-se Heráclides Castro, vulgo Dicinho, exímio baixista e membro da banda do emergente astro da MPB Alceu Valença. Ele me viu tocando numa festinha “Mulheres de Atenas” do Chico. Disse pra mim: passa lá em casa para eu te passar uns acordes. Fui lá e passei a ver coisas que jamais vi na minha vida, ele simplesmente entortava as músicas que eu mostrava pra ele, coisas que aprendi nas revistas de músicas cifradas. Ele colocava acordes estranhíssimos, lindos e expressivos demais da conta, uma magia pra meus ouvidos, endoidei minha cabeça, aquele maluco ali mostrou pra mim como era possível mexer com acordes, algo além de simplesmente acompanhar, era harmonizar, buscar as possibilidades de seqüências de acordes. Abri minha cabeça graças a essa luz que Dicinho pôs em minhas mãos, pouco tempo depois, pude entender teoricamente aquilo que meu primeiro grande mestre fazia com tanto talento. Foi lendo o MANUAL DE HARMONIA de Paulinho Nogueira que entendi como eram formados os acordes, como eram criadas as dissonâncias, assim como os encadeamentos de acordes que agregaram um enorme valor ao violão que eu tocava naqueles dias.

Em 1984 eu entrei na primeira escola de música erudita em minha vida, meu professor, Alexandre Bananinha me pede pra mostrar o que eu sabia fazer, já que ele sacou que eu já sabia tocar música popular. Toquei e cantei João e Maria (de Sivuca e Chico) com todos os acordes e dentro do ritmo da canção, ele adorou, mas disse, pra tocar popular você já está pronto, mas tocar violão erudito a história é outra. Tocou pra mim uma peça de J.S. Bach, a famosa Bourrée, ouvi aquela peça abestalhado e pensando no dia em que poderia algo parecido com aquilo. Ele passou a me cobrar estudos de escalas para condicionar minha técnica com o instrumento num nível que me permitisse executar peças do repertório erudito. Fiquei três meses somente nessas escalas que arrebentavam meus dedos, deixavam meus tendões em pandarecos com dores musculares pelo excesso de empenho. Fiquei somente nessas escalas sem tocar absolutamente nada, nem música cantada, muito menos música instrumental. Num dia de domingo, eu acordo bem cedo pra fazer minhas escalas, de repente, penso em tentar tocar “Abismo de Rosas”, de Américo Jacomino(Canhoto) que foi imortalizada por Dilermando Reis. Meus dedos voaram no braço do violão, eu não acreditava que estava tocando aquela linda valsa com meus dedos obedecendo ao meu cérebro. Foi um arrebatamento, uma felicidade incrível, na seqüência, voltei pra um arranjo de Asa Branca, fiquei mais louco ainda quando percebi que tinha dedos pra tocar coisas bem mais além das que antes fazia antes de iniciar meu treinamento com o professor Alexandre Bananinha. Passei dois dias nesse arrebatamento e feliz em me sentir musicista e capaz de brincar com tanta felicidade com o braço do violão.
Em 1985 fui aluno do professor Newton Banks no Centro de Educação Musical de Olinda, outro grande professor de violão erudito que abriu caminhos em minha mente para que eu melhorasse minha performance. Finalmente, em 1989, Esmael Feijó, meu derradeiro grande mestre de violão, tocava Villa Lobos como ninguém, passou pra mim o melhor conhecimento que tenho hoje de violão, uma alma musical iluminada que tinha uma abordagem afetuosa com seus alunos. Esmael me apresentava aos demais colegas da sua ESCOLA ALTERNATIVA DE MÚSICA DO RECIFE como compositor, dava o maior apoio às coisas de música popular que eu mostrava pra ele. Em 1990, estreei meu primeiro show de palco como compositor, cantor e violonista, chamei de CANTORIA URBANA, na platéia estavam lá, pra minha felicidade, meu primeiro mestre Fernando Artur, amigo de infância e parceiro musical, Newton Banks e Esmael, junto com vários colegas meus da escola de música.
Sou feliz demais em meu trabalho musical e agradeço à vida por ter posto em meu caminho tantos anjos da guarda que me ajudaram a desabrochar as rosas musicais que me surgiram pela frente.



(1)
Pixinguinha foi um mestre insuperável
Gonzagão sertanejo e menestrel
Cada um exercendo seu papel
Na canção cada um foi tão louvável
Toda alma brasileira foi palpável
Nas canções desses mestres ancestrais
Nos caminhos nas escalas magistrais
Turbilhão de belezas foi criado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(2)
Bela Vila Isabel com Noel Rosa
João de Barro grande Ernesto Nazareth
Com Jacob do Bandolim tudo dá pé
Pixinguinha trazendo Flor Amorosa
Grande Chico tanta coisa é preciosa
Desde A Banda e aí vem muito mais
Com Toquinho e Vinícius de Moraes
Radamés com Hermeto é arretado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(3)
Com Sivuca na sanfona vou ficando
Dominguinhos e também Alceu Valença
Com Renato seu Teixeira que bem pensa
Almir Sater na viola dedilhando
Sérgio Reis e Inezita vou louvando
Som da terra de trinados tão rurais
Pena Branca Xavantinho são vestais
Seu Zé Côco vai feliz no ponteado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(4)
Com Fafá de Belém eu me encanto
Com Gal Costa eu viajo ao paraíso
Elizeth fez meu ser perder o piso
Com a Elba meu Nordeste ouve o canto
Clementina negra dama nos deu tanto
Grande Elis entre nós cantou demais
Clara Nunes que louvou seus orixás
Todas elas na ribalta do tablado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(5)
Tom Jobim João Gilberto Carlos Lyra
Menescal todos pais da bossa nova
Ivan Lins ao piano é tanta trova
Vejo Milton Nascimento assim na mira
Som mineiro que no céu só nos atira
Com Vandré lembrando dos festivais
Gonzaguinha lá no céu descansa em paz
Altamiro toca um choro bem criado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(6)
Da Bahia vem o Gil e o Caetano
Vem Pepeu Armandinho e vem Caymi
Vem Bethânia vem Tom Zé e todo time
Vem Raul bom roqueiro e veterano
Vem Moraes o Moreira neste plano
Vem a Baby do Brasil que o belo faz
Vem Carlinhos negro Brown que nos apraz
Vem o samba de raiz todo bailado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(7)
Lá do Rio veio Rafael Rabelo
Bem a Beth e o Paulinho da Viola
Vem Aldir um poeta é show de bola
Vem Hermínio cabra bom com tanto zelo
Vem Cartola festejar eu vou fazê-lo
João Nogueira grandes sambas como tais
Esses dons esses sons celestiais
O chorinho que no Rio foi gestado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(8)
O Martinho lá da Vila é Pernambuco
Nordestino que depois virou sambista
O da Silva foi Moreira em mesma lista
Vem da terra que nasceu Joaquim Nabuco
Vem Geraldo Azevedo não retruco
Vem Gonzaga sanfoneiro bem atrás
Vem Lenine que talento esse rapaz
Vem Alceu que é muito festejado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(9)
Vem o Fagner lá do grande Ceará
Ednardo vem Nonato seu Luiz
Paraíba Zé Ramalho é da raiz
Chico César vem assim mesmo lugar
Alagoas Djavan vem festejar
Borghetinho lá do sul tantos piás
Como Kleiton e Kledir tão laborais
Os sulista do Rio Grande aloprado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais
(10)
O Brasil musical é grandioso
É baião samba xote e é chorinho
É catira bossa nova e som do pinho
Afoxé tem o frevo caloroso
Norte a sul um país melodioso
Tem os dons tem os sons e é capaz
O talento deste povo é contumaz
Toda hora algo novo inventado
Acordei neste mote fui tocado
Pra colher tantas rosas musicais

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tio Sam e o Haiti




Urubus nesta carniça
Na tragédia natural
A miséria tão geral
Desespero sempre atiça
Tio Sam velha premissa
Dispensando o ti-ti-ti
Pobre gente ai de ti
Ante a cena tão dantesca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI

Quer assim mostrar serviço
E mostrar pra cucaracha
Que o império atarraxa
No seu velho compromisso
Ban Kim Moon parece omisso
Nem protesto em piti
Tio Sam te prometi
Resistência quixotesca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI

Os soldados de Caxias
Como tropas pacifistas
A mandar seus reservistas
Pra ocupar tais cercanias
Haiti teus tristes dias
Ao passado remeti
E no verso me meti
Pois miséria é animalesca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI

Argumento a insegurança
Entre os haitianos
Os fuzis americanos
Vão aí entrar na dança
Falta pão pra dar sustança
No diz o Itamaraty
Nessa tecla que bati
Da miséria tão grotesca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI


Pois a força militar
Tropas desta ocupação
Os desejos do falcão
Vai a força destacar
Pra esse povo ajudar
Nisso tudo eu refleti
Argumento eu rebati
Com memória muito fresca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI

Tio Sam com militares
Com seus M-16
Por ali em outra vez
Nuvens negras nestes ares
Lá ruíram muitos lares
No cordel não omiti
A mentira eu combati
Sem falar forma burlesca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI


No país tanta pobreza
Ante a gana imperial
Do Haiti colonial
No presente é sem riqueza
Um poder de vil torpeza
Isso eu nunca desmenti
No cordel tudo eu senti
Não foi coisa pitoresca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI

O exército e a marinha
E a nossa força aérea
Conhecendo esta matéria
Da miséria mais daninha
O meu verso nesta linha
Versejando então parti
Ao falar me intrometi
Contra elite nababesca
TIO SAM E SOLDADESCA
OCUPANDO O HAITI


Seu Obama vai mostrar
Toda cara o império
Falador e muito sério
Mas com força militar
Se o Irão vai atacar
Por a paz num ataúde
Vai fardar a juventude
Pois tem medo do terror
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

No Haiti tão destruído
São dez mil e bem armados
Para ali manda soldados
Com um intento imbuído
Tio Sam tão bem nutrido
No Haiti tem quem ajude
Na realidade rude
Toda fome o estupor
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

Sem estado palestino
Duas guerras no cenário
Haiti sendo cenário
É cruel triste destino
Mas Obama é paladino
À justiça sempre alude
Um abismo qual talude
Nos separa meu senhor
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

No Iraque tantas mortes
Fogo no Afeganistão
Talebãs no Paquistão
Essas são as tristes sortes
Haiti sofrendo cortes
Desespero ali tem grude
Que o futuro assim desnude
O império do opressor
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

São dez mil bem equipados
Pra mostrar seu poderio
O império em desvario
Pôs ali encastelados
Seus milicos bem treinados
De sangrar já fez açude
No Irã que tem Marmhoud
Pensa ser interventor
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

Seu Obama tem a CIA
Tem marines de montão
Tem ogiva e avião
E tem forte economia
Se Obama negocia
Mas a mim nunca me ilude
Fiz meu verso como pude
Num cordel e um trovador
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude.

São dez mil bem equipados
Pra mostrar seu poderio
O império em desvario
Pôs ali encastelados
Seus milicos bem treinados
De sangrar já fez açude
No Irã que tem Marmhoud
Pensa ser interventor
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

Seu Obama tem a CIA
Tem marines de montão
Tem ogiva e avião
E tem forte economia
Se Obama negocia
Mas a mim nunca me ilude
Fiz meu verso como pude
Num cordel de um trovador
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude.

Nossas tropas diferentes
Que ali por convocadas
Companheiras nas jornadas
Labutar em tantas frentes
São as tropas diligentes
Por ali levam saúde
Em busca de que transmude
Um presente aterrador
Tio Sam muda de cor
Mas não muda de atitude

Seu Obama qual a raça
Qual o sangue dos irmãos
Se está em suas mãos
A verdade ou a trapaça
A ventura ou a desgraça
Muita “hangry” ou muito “food”
É xerife ou Robin Wood
Libertário ou só feitor
Ou só fez mudar de cor
Sem mudar de atitude?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Onanismo Virtual

Poema feito à mão
(Allan Sales)

Tem tudo nesse mundo
Sem fuder no tète à tète
Ficam dois conectados
E a história de repete
E o cabra masturbado
Ejacula no teclado
Punhetando a internet

Ela fica doutro lado
E na seca também fica
Molhadinha suspirando
A querer sentar na pica
Mas não pode entrar no rolo
O seu dedo é seu consolo
Dedilhando a siririca

Uma “cam” então ligada
O casal nessa vendeta
Um colóquio virtual
Pois casal não é careta
Um consolo é bem verdade
Cada um é só vontade
De juntar rola e buceta.

*Dedicada a uma amiga que pratica esse consolo via web com seu namorado que hoje mora há cerca de 2000 km de distância.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O PADRE QUE NÃO ERA SANTO



Baseado num causo que vi o talentoso Rolando Boldrin contando no extinto programa SOM BRASIL na Rede Globo.

I
Padre Chico muito novo
Foi vigário em Campolina
A cidade bem pacata
Numa terra campesina
Era um padre popular
Pelos modos de falar
Essa foi a sua sina
II
A beata Severina
Era sua preferida
Zé Romão o sacristão
Viveu junto uma vida
Esse padre diferente
Era muito competente
Sua fé foi bem ungida
III
Gostava duma partida
De buraco com os fiéis
Não dispensava uma pinga
Execrava os cabarés
Jogava bola também
E dançava um xenhenhem
Muitos eram seus papéis
IV
Com plebeus com bacharéis
Os tratava como iguais
Gostava de vaquejada
E também dos festivais
Corria na cavalhada
Não dispensa a pelada
E também os carnavais
V
Modos não convencionais
Os seus modos de fazer
Conduzir o seu rebanho
Muitos a repreender
Mas com a igreja cheia
Nem o bispo lhe aperreia
Deixando assim ele ser
VI
Mesmo ao envelhecer
Muita popularidade
Foi padim de muita gente
Das crianças da cidade
Caridoso e divertido
Um padreco imbuído
Muita originalidade
VII
Mas o peso da idade
Obrigou a se aposentar
E assim a diocese
Tratou logo de mandar
Outro padre rezador
Pra cuidar ser condutor
A paróquia pastorar
VIII
Com o bispo a decretar
Novo padre que chegou
Que foi substituir
Padre Chico que esperou
Ele na rodoviária
Pois achou bem necessária
Atitude que tomou
IX
Padre Zeca se assustou
Com o velho padre assim
Era um velho bem fogoso
Que não era um querubim
Mas enfim sua missão
Era sua vocação
Estudou para esse fim
X
Vindo lá de um confim
Onde foi seminarista
Assumir esta paróquia
Padre Zeca era um artista
Tinha até CD gravado
Mas um cabra recatado
E corria noutra pista
XI
Padre Chico ruim da vista
Levou ele pra mostrar
Mostrou como era igreja
Como o povo então levar
E pra não causar um choque
Levou Zeca a reboque
E se pôs logo a falar
XII
Pra você se adaptar
Isso aqui é o interior
Uma gente boa e simples
São pessoas de valor
Eu aqui sou conselheiro
Mas que padre companheiro
Sou parceiro e sou pastor
XIII
Padre Zeca, por favor
Seja padre na igreja
Mas na vida dos comuns
Um boçal você não seja
Um convite nunca enjeite
Se o povo der aceite
Pode até beber cerveja
XIV
Assistir até peleja
De violeiro repentista
Ver jogo de futebol
Eu vou lhe mostrar a lista
Pra ser padre engajado
Pelo povo bem prezado
Que sua missa sempre assista
XV
Como um seminarista
O mais velho ele escutou
E seguiu na mesma linha
Que o velho aconselhou
Padre Chico inteligente
Ensinou todo contente
E o outro ali pegou
XVI
De presente lhe doou
Manual das penitências
Pra punir os pecadores
E lhe dar as assistências
Uma lista com pecado
E o castigo aplicado
Pelas suas indecências
XVII
Ao seguir as preferências
Que padre Chico mostrava
Padre Zeca em pouco tempo
Muito prestígio ganhava
Pelo povo festejado
Perfeitamente engastado
Na cidade que abraçava
XVIII
Mas um dia ali chegava
Pra fazer a confissão
Uma moça bem safada
Namorava de montão
Foi contar tanto pecado
Padre Zeca assustado
Com tanta esculhambação
XIX
E na sua falação
Foi contando que beijou
Na boca do namorado
Que sua xota alisou
E o padre ali falando
Penitências foi ditando
Mas a moça não parou
XX
Pois contou que “funhanhou”
Com tal Mané Zaqueu
Padre Zeca procurou
Funhanhar ali não leu
Funhanhar ali não tinha
Que seria essa morrinha
Padre Chico se esqueceu?
XXI
Pediu um tempo correu
Foi o velho consultar
Qual seria a penitência
Que se dá por funhanhar
Pois assim desconhecia
A gíria que ali corria
Então pôs-se a perguntar
XXII
Padre Chico a cochilar
Acordou com a barulheira
Padre Zeca perguntava
Funhanhar era besteira?
Qual seria o castigo
Que daria sem perigo
Pra mocinha tão rameira
XXIII
Zeca: veja que besteira
Você muito se apavora
O que dá pra funhanhar?
Eu repondo logo agora
Pras essas quengas duma figa
Dá dez paus pra rapariga
Veste a roupa e manda embora
XXIV
Respondeu ali na tora
Padre Zeca com espanto
Decifrou logo essa gíria
E voltou para seu canto
Pra lidar com pecadores
Pra acalmar as suas dores
Não precisa ser tão santo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Glosa e mote de Allan Sales

Vou seguir neste mundo sem correr
De lutar por aquilo que eu quero
E buscar sem temer o que espero
E assim novo sempre empreender
O meu verbo principal sim é fazer
E forjar sem temer realidade
Procurar sempre luz desta verdade
E pisar caminhar neste terreno
Vou querer um viver perene e pleno
Sem querer nada mais pela metade

Decidir

Decidir navegar de peito aberto
Muito embora sem achar felicidade
Decidir se doer seguir em frente
E buscar sempre em mente a claridade
Decidir quando a vida faz aceno
E querer um viver perene e pleno
Sem querer nada mais pela metade

ALLAN SALES

RECIFE, O1 DE JANEIRO DE 2010.

Aos que se recusam à liberdade

Passarinho que gosta da gaiola
Que não voa pois falta a decisão
E assim permanece no marasmo
Pois se quer se manter nesta prisão
Se não vai viajar noutras paragens
Vai ficar com fantasmas nas miragens
Entre o medo, a culpa e a depressão

ALLAN SALES, 01 DE JANEIRO DE 2010

Louvados sejam todos




As pessoas para quem me apresento até hoje, sempre nos dão um suporte de apoio que nos encorajam a seguir sem medo de ousar e experimentar novas coisas e por as velhas coisas de boa qualidade em cena.

A nossa comtemporaneidade de domínio de um ente supra social chamado mercado, é que fez as expressões artísticas virarem de certa forma reféns das mídias, cuja visibiliade nelas tornou-se uma espécie de paradigma de qualidade estética do trabalho de um artista. Ou seja, o sucesso e visibilidade midiática é que dá ao artista a "legitmidade" dele diante da sociedade.

Tudo isso aí que citei neste artigo, aconteceu numa escala artesanal de uma chamada mídia humana, se bem que muitos desses eventos contaram a seu tempo com respaldo de espaços nos jornais locais (JC e DP), onde pessoas da redação nos divulgaram na medida em que os espaços editoriais assim permitiram.

Enquanto esse reconhecimente em escala industrial não acontece, o que significa a bênção da mídia televisiva, vamos seguindo na nossa incansável diuturna jornada fazendo aquilo que gostamos e acreditamos, contando com o respaldo de gente como:

Deo Santana, Luiz Berto, poetas José Honório, Paulo Dunga, Edgar Diniz, Heloísa Arcoverde(FCCR),Pedro Américo de Farias(Memorial Luiz Gonzaga),Leleu(Mercado da Boa Vista), Reginaldo(Pizzaria O Lenhador),Dona Lia(Restaurante Banguê),Cida Pedrosa e Sennor Ramos(Ong ANDARARTE),Morse Lyra Neto(ator),Sílvio Knofler(meu guitarrista), Rinaldo Borges(dono de casa de show),Marcos Veloso(Espaço Cultural Nossso Quintal),Ana Cely Ferraz(Editora Coqueiro),Dulce Melo(Gerência de Rádio da PCR),Fernando Duarte(Secretaria de Cultura do Recife), Alexandre Sena(Presidente da CSURB),Carminha Bandeira(Gerência municipal de bibliotecas da PCR),UNICORDEL, Poeta Felipe Junior, Maestro Spok, Prof. Doutor Paulo Lyra(Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE),Fernando Arhur(Tribunal de Contas de PE),Bode Valença(FCCR),Luciana Araújo(Federação das Escolas Alternativas de PE),Profa. Márcia siqueira(COLÉGIO MOTIVO),Tertulino(Pátio de São Pedro),Michelle e Emídio(empresa de eventos Cidade Palatino),Kleber Kixaba,Lidia Valões(estudante da UFPE),Daniella Karla(radialista),Wagner Gomes e Fabian Miranda (Sistema JC de comunincação),Leonardo Leão, Ismael Gaião, poeta Marcelo Mário de Melo. E todas pessoas para quem me apresentei nas mais de duas centenas de palcos onde estive em 2009 que me assistiram, compraram CDs e cordéis, pagaram couverts pra gente,e foram a razão de subir no palco e dar o melhor de mim.

mote sugerido por Cícero Moraes


I
Com cuidado com tal bala perdida
Visitar Corcovado e a Rocinha
Ipanema vou ver linda gatinha
E sambar bem bonito na avenida
Lá Rio viver a boa vida
E surfar com prazer no Arpoador
Se Jobim por aí foi criador
Do seu som bem bacana e genuíno
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
II
Um passeio gostoso lá na Lapa
Passear com prazer nesse bondinho
E ouvir com prazer lindo chorinho
Ver o Zeca sambista que é meu chapa
Conhecer desta terra cada etapa
Pois o Rio da gente tem valor
Futebol carnaval e muita cor
E um sol a brilhar no céu a pino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
III
Vou voar de asa delta ver o mar
Lulu Santos ouvir Jorge Benjor
Este Rio bonito é bem melhor
Vai ter jogos pra gente se fartar
Lá morro meu povo ver sambar
O pulsar do pandeiro e do tambor
Tom Jobim seu maior compositor
Fez um som brasileiro muito fino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
IV
Este Rio que deu-nos Clementina
Pixinguinha Vinícius de Moraes
João Nogueira sambista e tantos mais
Recebendo a gente nordestina
Este Rio de amor que nos ensina
Um Brasil de talento criador
Pois tem rap de um povo inovador
E tem samba demais ô seu menino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
V
Capoeira também nós encontramos
E tem feira que tem coisas daqui
São Cristovão também tem Acari
Lá no Rio também nós nos achamos
Este Rio bonito nós amamos
Onde nós nordestinos com amor
Fomos nós construindo com labor
Pois migrar pra viver nosso destino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
VI
Paraíba é a puta que os pariu
Eles chamam nós assim de sacanagem
Pois adoram fazer tal molecagem
Cariocas maloqueiros do Brasil
Sua terra um braço construiu
Foi o nosso de bom trabalhador
Este Rio carrego num andor
De gostar desta terra não termino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
VII
Paraíba um caralho digo assim
Mas adoro demais Copacabana
Este Rio moleque bem sacana
Onde tem toda bossa de Jobim
Este Rio bonito não tem fim
Pois fará do Brasil um vencedor
E nos jogos daí um ganhador
No cordel por aqui isso eu atino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
VIII
Eu vim dar um abraço no sambista
Nesse Nelson Sargento um show de bola
Um abraço na verve de Cartola
E no Zico cobrão futebolista
Um abraço bem forte no passista
Jamelão nosso mestre bom cantor
Joãozinho que foi reinventor
Carnaval sem igual no figurino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
IX
Vi aqui abraçar Maracanã
Botafogo com Vasco e o Flamengo
Fluminense Bangu com todo dengo
Esse Rio que acorda pro amanhã
Essa gente bacana muito irmã
Carioca gentil de abrasador
Tem cultura que brilha com fulgor
Mestre sala que tem tom bailarino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor
X
Abraçar todo Rio de Janeiro
Litoral lindo povo da favela
A Mangueira meu povo da Portela
Vidigal Cabuçu grande Salgueiro
Minha Vila Isabel povo maneiro
Viradouro também a Beija-Flor
Ver meu Rio brilhar com resplendor
No cordel que embaixo aqui assino
Eu vim dar um abraço nordestino
Na estátua do Cristo Redentor